Navio de Carga
Crédito: Canva

 

Vale Acelera Iniciativa de Redução de Carbono com Tanques Multicombustíveis em Navios

A mineradora Vale deu mais um passo decisivo em sua estratégia de descarbonização ao receber a aprovação da DNV, uma das maiores sociedades classificadoras do mundo, para o desenvolvimento de tanques multicombustíveis em suas embarcações de transporte de minério de ferro. Este projeto, que integra o programa Ecoshipping da Vale, visa adaptar navios para o uso de combustíveis de baixo carbono, como o gás natural liquefeito (GNL), metanol e amônia. Esse avanço é uma parte importante da ambiciosa meta da empresa de reduzir em 15% suas emissões de escopo 3 até 2035.

 

A Transição para Combustíveis Alternativos

O desenvolvimento dos tanques multicombustíveis, criado em parceria com as empresas norueguesas Brevik Engineering AS e Passer Marine, faz parte da busca global pela redução das emissões de carbono no setor marítimo. Os novos sistemas permitirão a conversão gradual das embarcações fretadas pela Vale, permitindo que navios operem com combustíveis alternativos que emitem até 80% menos carbono do que o bunker oil atualmente utilizado. A Vale opera atualmente 114 navios de grande porte, dos quais 77 estão aptos a receber essa tecnologia de ponta. O projeto prevê um investimento total de US$ 30 milhões por navio até a conclusão do desenvolvimento.

 

Rodrigo Bermelho, gerente de engenharia naval da Vale, destacou que essa aprovação marca um passo significativo rumo à implementação prática. “A validação do sistema pela DNV confirma que ele atende a todas as normas e está apto para ser aplicado nas nossas embarcações”, afirmou Bermelho. A expectativa é que os novos tanques comecem a ser implementados em 2023, com o uso pleno a partir de 2025.

 

Impacto no Mercado Marítimo e as Reduções de Carbono

O uso de combustíveis alternativos não é uma novidade completa no setor marítimo, mas está ganhando cada vez mais relevância diante da pressão por soluções sustentáveis. No caso do GNL, por exemplo, as emissões podem ser reduzidas em até 23%, enquanto o metanol e a amônia oferecem reduções que podem variar de 40% a 80%, dependendo da tecnologia e das condições operacionais. Vale destacar que a amônia, apesar de promissora por não emitir carbono, ainda enfrenta desafios técnicos para ser amplamente adotada no transporte marítimo internacional.

 

Este projeto se alinha às metas globais de redução de emissões do setor naval, que tem buscado alternativas ao uso do bunker oil, um combustível altamente poluente. A transição, no entanto, é complexa e envolve desafios regulatórios, técnicos e econômicos. A Vale, ao iniciar essa jornada, busca estar na vanguarda da transformação energética no setor de transporte de commodities, uma indústria notoriamente intensiva em emissões.

 

Investimentos em Sustentabilidade e o Acordo de Paris

A Vale já havia anunciado, em 2020, um plano de investimentos de US$ 6 bilhões para reduzir em 33% suas emissões de escopo 1 e 2 até 2030. Esses escopos envolvem emissões diretas da própria operação da mineradora e emissões indiretas da energia comprada para suas atividades. Embora a frota de navios não esteja diretamente incluída nesses escopos — sendo parte das emissões de escopo 3, que se referem a cadeias indiretas —, a companhia também se comprometeu a reduzir em 15% essas emissões até 2035, uma meta considerada agressiva dentro do contexto do setor.

 

A implementação dos tanques multicombustíveis é parte essencial dessa estratégia. Ao permitir o uso de GNL, metanol e amônia, a Vale demonstra seu comprometimento em adotar soluções tecnológicas que contribuem para um transporte marítimo mais sustentável. Embora o metanol possa ser produzido a partir de biomassa, transformando-se em um biocombustível, a amônia, rica em hidrogênio, também apresenta um grande potencial como combustível alternativo, especialmente quando produzida a partir de fontes renováveis. “Estamos trabalhando com diversas incertezas, incluindo regulamentações e questões de custo, mas acreditamos que esses combustíveis têm o potencial de liderar a transição energética no transporte marítimo”, acrescentou Bermelho.

 

Olhando para o Futuro

Além dos benefícios ambientais, o uso de combustíveis alternativos pode ajudar a Vale a mitigar os riscos associados às flutuações de preço e disponibilidade dos combustíveis fósseis tradicionais. À medida que a pressão regulatória e de mercado sobre as emissões aumenta, estar à frente na adoção dessas novas tecnologias oferece uma vantagem competitiva significativa. Para países como Japão, China e Coreia do Sul — principais destinos das exportações da Vale —, a demanda por soluções mais verdes também está em alta, tornando essa transição ainda mais estratégica.

 

O projeto multicombustível não é apenas uma resposta às exigências climáticas globais, mas também uma oportunidade para que a Vale se destaque como líder em sustentabilidade no setor de mineração e logística. A adoção de combustíveis como GNL, metanol e amônia em larga escala terá um impacto profundo, não apenas no transporte de minério de ferro, mas no setor marítimo como um todo.

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