
A Tupperware, icônica fabricante de potes herméticos, está em vias de pedir falência, sinalizando o fim de uma era para uma marca que, durante décadas, simbolizou inovação e independência financeira para muitas mulheres. Na segunda-feira, 16 de setembro, as ações da empresa despencaram 57,51% após a Bloomberg News divulgar que o pedido de falência é iminente. Esse evento marca o ápice de uma crise que vem se desenrolando há anos e coloca em risco o legado de uma das maiores inovações do século 20.
O colapso financeiro e a queda das ações
Nos últimos anos, a Tupperware viu suas ações caírem drasticamente, acumulando uma desvalorização de 96,75% desde janeiro de 2021. A marca, que chegou a valer US$ 37,29 no auge da pandemia de Covid-19, viu seus papéis serem negociados por apenas US$ 0,51 na Bolsa de Nova York. Embora tenha experimentado um aumento momentâneo nas vendas durante o confinamento, quando muitas famílias passaram a cozinhar mais em casa, esse impulso não foi suficiente para manter a empresa financeiramente estável.
A Tupperware acumula uma dívida significativa, estimada em US$ 700 milhões, que a empresa tenta renegociar com seus credores, enquanto planeja o pedido de falência. Além disso, o prejuízo operacional em 2022 foi de US$ 14 milhões, e as vendas anuais caíram para US$ 1,3 bilhão, metade do que a companhia registrava há uma década. Esses números evidenciam o abismo em que a Tupperware se encontra, agravado por sua incapacidade de inovar e conquistar novas gerações de consumidores.
O desafio das mudanças no mercado de consumo
Nos últimos anos, a Tupperware enfrentou uma série de desafios estruturais. Neil Saunders, analista da GlobalData, argumenta que a empresa falhou em atrair consumidores mais jovens, além de ver uma queda acentuada no número de revendedoras, tradicionalmente a base de suas operações. A marca, que se tornou sinônimo de soluções inovadoras para a cozinha, perdeu sua vantagem competitiva no mercado com o tempo. Competidores mais ágeis e com presença digital forte minaram sua relevância, deixando a Tupperware anacrônica em um setor cada vez mais dinâmico.
O próprio modelo de vendas diretas da Tupperware, que já foi um símbolo de empoderamento feminino, está perdendo apelo. Com o avanço das plataformas de e-commerce, o método tradicional de reuniões presenciais para demonstração dos produtos foi superado, enquanto as marcas digitais atraem uma base de clientes muito mais ampla.
A história de um ícone: ascensão e queda
Fundada em 1946 por Earl Tupper, a empresa nasceu de uma ideia inovadora: criar recipientes plásticos herméticos que ajudassem as famílias a armazenar alimentos de forma mais eficiente e reduzir o desperdício. Durante décadas, a Tupperware prosperou, com suas “reuniões Tupperware” tornando-se um fenômeno cultural e comercial, especialmente entre mulheres que encontraram na revenda uma oportunidade de renda e de empoderamento.
No entanto, o sucesso inicial da Tupperware foi sendo corroído ao longo dos anos. A empresa não conseguiu acompanhar as tendências de consumo, especialmente com o crescimento das vendas online e a ascensão de marcas com maior conectividade digital. Seu modelo de negócios, antes revolucionário, agora parece desatualizado, à medida que os consumidores buscam conveniência e inovação.
O futuro incerto da Tupperware
Apesar da profunda crise, a Tupperware ainda mantém operações em vários mercados, incluindo o Brasil, onde a empresa continua a ter um desempenho relativamente estável. Paola Kiwi, CEO da Tupperware na América Latina, afirmou recentemente que a filial brasileira ainda se encontra saudável e que a produção local permanece ativa. No entanto, o futuro da empresa como um todo permanece incerto, com o possível pedido de falência nos Estados Unidos representando um marco na história da marca.
A Tupperware não é a primeira nem será a última grande empresa a lutar para se adaptar a um mercado em constante mudança. Sua queda reflete não apenas desafios internos de gestão e inovação, mas também as rápidas transformações no comportamento do consumidor, que exigem agilidade e renovação constante. Resta saber se a empresa conseguirá se reestruturar e recuperar parte de seu prestígio ou se sucumbirá definitivamente, deixando apenas o legado de uma marca que um dia foi sinônimo de inovação.