Em um desfecho que encerra um dos capítulos mais turbulentos da aviação comercial recente, a Embraer anunciou que a Boeing pagará US$150 milhões após a conclusão de um processo de arbitragem entre as duas gigantes da indústria aeronáutica. O valor representa o fim de uma longa disputa iniciada após a Boeing desistir, em 2020, de adquirir a divisão de jatos comerciais da Embraer por US$4,2 bilhões. A justificativa da Boeing, na época, foi de que a fabricante brasileira não cumpriu certas condições acordadas, enquanto a Embraer apontou que a desistência era motivada por desafios financeiros enfrentados pela americana, exacerbados pela crise no setor.
A cifra acordada, embora significativa, ficou abaixo da expectativa de analistas, que previam uma compensação em torno de US$300 milhões. Após ajustes tributários, o valor líquido que a Embraer deverá receber é estimado em cerca de US$85 milhões. A reação do mercado foi imediata: as ações da Embraer caíram 4,43% na B3, a bolsa de valores paulista, por volta das 11h, embora ainda acumulem uma alta de mais de 120% no ano.
Para a Boeing, a resolução do caso marca o encerramento formal de uma parceria que, apesar do fracasso do acordo de compra, remonta a mais de nove décadas de colaboração com a indústria aeroespacial brasileira. A empresa americana destacou sua satisfação com o desfecho da arbitragem e reforçou seu compromisso de longo prazo com o Brasil.
Analistas do Bradesco BBI, Victor Mizusaki e Andre Ferreira, destacaram que, apesar da compensação estar aquém das expectativas de mercado, o fim do processo traz uma certa clareza ao futuro da Embraer, agora mais livre para concentrar seus esforços no crescimento do setor de aviação regional e novas tecnologias, como a mobilidade aérea urbana.
Esse acordo não só traz à tona os desafios de uma tentativa de fusão fracassada, como também evidencia a resiliência de ambas as empresas em um setor que continua a passar por grandes transformações globais.